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DOC. 1 REPRODUÇÃO Entrar no mundo: o mundo é o mercado. O mercado
mundial, onde se compram países. Nada de novo. A Amé‑
A união latino-americana rica Latina nasceu para obedecê-lo, quando o mercado
mundial ainda não se chamava assim, e aos trancos e
← Latinoamerica barrancos continuamos atados ao dever de obediência.
soy yo!, cartaz
inspirado no Essa triste rotina dos séculos começou com o ouro
pensamento do e a prata e seguiu com o açúcar. O tabaco, o estanho, a
escritor uruguaio borracha, o cacau, a banana, o café, o petróleo... O que nos
Eduardo Galeano. legaram esses esplendores? Nem herança nem bonança.
Jardins transformados em desertos, campos abandona‑
DOC. 2 dos, montanhas esburacadas, águas estagnadas, longas
caravanas de infelizes condenados à morte precoce. [...]
O passado é mudo?
Agora é a vez da soja transgênica, dos falsos bosques
“Segundo a voz de quem manda, os países do sul do da celulose e do novo cardápio dos automóveis, que já
mundo devem acreditar na liberdade de comércio (embora não comem apenas petróleo ou gás, mas também milho
não exista), em honrar a dívida (embora seja desonrosa), em e cana-de-açúcar de imensas plantações. [...]
atrair investimentos (embora sejam indignos) e em entrar
no mundo (embora pela porta de serviço). Continuamos aplaudindo o sequestro dos bens na‑
turais com que Deus, ou o Diabo, nos distinguiu, e assim
trabalhamos para nossa perdição e contribuímos para o
extermínio da escassa natureza que nos resta.
[...] em nome da modernização e do progresso, os
bosques industriais, as explorações mineiras e as planta‑
ções gigantescas arrasam os bosques naturais, envenenam
a terra, esgotam a água e aniquilam pequenos plantios e
as hortas familiares. [...]
Terras que poderiam abastecer as necessidades essen‑
ciais do mercado interno são destinadas a um só produto, a
serviço da demanda estrangeira. Cresço para fora, para dentro
me esqueço. Quando cai o preço internacional desse único
produto, alimento ou matéria-prima, junto com o preço caem
os países que de tal produto dependem. [...]
O passado é mudo? Ou continuamos sendo surdos?”
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre:
L&PM, 2012. p. 3-4.
Veja respostas e orientações ATIVIDADES
no Manual do Professor.
ANALISAR COMPREENDER
DOC. 1 DOC. 2
1. Analise o cartaz e responda: diante de tantas diferen- 4. Qual é a relação que Eduardo Galeano estabelece entre
ças entre os povos latino-americanos e dos problemas passado e presente da América Latina? Indique passa-
identitários decorrentes da colonização europeia, em gens do texto que exemplificam essa relação.
que medida os habitantes da América Latina podem
reivindicar uma identidade comum? 5. Com base no estudo desenvolvido no capítulo e na
leitura do texto, qual é a crítica comum que a filosofia
2. Você reconhece que sua identidade é, em parte, formada da libertação e Galeano fazem à modernidade?
pelos locais de nascimento e de existência, no caso,
o Brasil e a América Latina? Explique e dê exemplos. RETOMAR
6. Responda às questões-chave do início do capítulo.
3. Na sociedade tecnológica atual, podemos dizer que a
ideia de unidade dos povos da América Latina evocada a) Por que os Direitos Humanos não são plenamente ga-
pelos movimentos e pela filosofia da libertação tem rantidos nos países da América Latina?
sentido? Justifique sua resposta.
b) O que é a filosofia da libertação e qual é a sua relação
com a universalização dos Direitos Humanos?
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