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FILOSOFIA BRASILEIRA: SABERES E
PENSAMENTOS
Quais são as principais diferenças entre o imaginário dos povos origi-
nários do Brasil e o pensamento ocidental?
Há uma filosofia propriamente brasileira?
↻ O abismo entre dois mundos
LUCIOLA ZVARICK/PULSAR IMAGENS
→ Indígenas da etnia Waurá
durante ritual do Kuarup, que
celebra a memória dos mortos e
liberta suas almas para o mundo
espiritual. Gaúcha do Norte (MT).
Foto de 2019.
“Talvez não exista pior privação, pior carência, que a dos perdedores na luta simbólica por
reconhecimento, por acesso a uma existência socialmente reconhecida, em suma, por humanidade.”
BOURDIEU, Pierre apud BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria.
Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 7.
Nos capítulos anteriores, chamamos a atenção para outras formas de co-
nhecimento, organização e entendimento da realidade e do mundo além da visão
ocidental. Como vimos, a visão ocidental tornou-se hegemônica na história e na
filosofia. Esse acontecimento deixou na sombra, no esquecimento ou na indi-
ferença formas de ser e de pensar de diversos povos. O massacre do processo
de colonização não foi só físico, mas também cultural. Não foi diferente com os
povos originários da América Latina e, em especial, com os indígenas brasileiros.
Vejamos como isso aconteceu, aproveitando para entrar em contato com alguns
aspectos comuns do imaginário desses povos.
↪ A humanidade e o projeto civilizador
A ideia de que em algum lugar do mundo existe um paraíso terreno, uma
região da bem-aventurança que poderia ser alcançada ao superar perigos e pro-
vas, como monstros e demônios, é antiga e predominou em toda a Idade Média
e no início da Idade Moderna. Essa ideia está presente nos relatos de inúmeros
viajantes, como os Diários da descoberta da América, de Cristóvão Colombo,
em que são relatadas suas quatro viagens.
118 UNIDADE 2: O MUNDO EM MOVIMENTO